UMA PARÁBOLA INDIANA E NOSSA: Certa vez, sete cegos foram reunidos e fechados com um enorme elefante. Foram orientados a tocar, sentir e dizer o que era aquela experiência.
O 1º. tocou uma pata e disse: ‘É uma coluna rugosa, como uma árvore altíssima que sustenta o edifício do mundo’.
O 2º. apalpou cuidadosamente a tromba examinou e disse: ‘É uma espécie de conduto oco que absorve e expulsa a água da vida’.
O 3º. colocou a mão na boca do animal, cheia de comida, e disse: ‘É um abismo que tudo devora’.
O 4º. introduziu sua cabeça na garganta do elefante, sentiu-se absorvido por sua respiração e disse: ‘É um imenso abismo que aspira e espira o vento infinito’.
O 5º. foi tocando a parte inferior de seu ventre e disse: ‘É um céu que tudo cobre e que assim pode abrigar-nos ou impedir-nos de subir mais para cima’.
O 6º, ao contrário, conseguiu pular e colocar-se em cima, cavalgou sobre suas costas em grande velocidade, percorrendo em círculo a grande sala do cosmos, e disse: ‘É um perpétuo movimento. Que beleza!’.
O 7º, finalmente, escutou seus grandes alaridos e disse: ‘É uma voz que quer nos transmitir uma mensagem que não compreendemos’.
(PIKAZA, Xabier. Violência e diálogo das religiões. São Paulo: Paulinas, 2008, p.160).
O divino-sagrado é força sustentadora,
é fluidez vital de espiritualidade,
é imenso e assustador desconhecido,
é espírito plenificador,
é referência ética e aconchego,
é dinamismo mobilizador,
é mensagem a ser
Cada olhar tem uma compreensão que se completa com a outra, e ainda sobra mistério. |
Na grande aventura histórica, com todos os percalços, cada tradição religiosa guardou uma semente de que precisamos para o replantio dos sonhos, para restaurar a criação, para rejuntar o que está quebrado, para as necessárias ações benfazejas no planeta. Em grande marcha global pela salvação do mundo podemos então chamar alguns dos muitos povos. Os Guarani trazem a Terra Sem Males (Yvý Marane’y), como horizonte de toda sua relação com a natureza, com a humanidade e com o Mistério Divino considerando cada ser humano uma palavra divina.
Os Zapoteca trazem a perspectiva de fazer de toda a terra (Guidxilayú) uma casa digna da humanidade inteira em plena harmonia.
O Quéchua trazem a profunda relação com a Mãe-Terra (Pachamama) como manifestação fecunda da dádiva de Deus e trazem a ligação com os antepassados na compreensão do mistério da vida.
Os Aimara trazem o universo cheio de vida, as relações com montanhas, planaltos e vales intermináveis, o carinho com todos os seres especialmente com o momento do nascimento.
Os Maia trazem uma dimensão cósmica da vida, atentos à respiração dos astros e construção da felicidade sustentável aqui na terra, buscando harmonia pessoal, na família, na comunidade e no cosmo.
Os Raramuri trazem a consciência da fragilidade, e a decidida recusa à contaminação pela violência de defesa preventiva, enquanto fazem da festa o bem mais precioso.
O Hinduismo traz o princípio da não violência, que Gandhi levou às últimas conseqüências, o respeito profundo por todas as formas de vida, e o conhecimento aberto ao infinito.
O Budismo traz o princípio da compaixão, a prática das ações virtuosas, a busca do estado de plena iluminação na simplicidade da vida e a afirmação da paz.
O Islã traz a prática da misericórdia, o esforço de vida regrada, irmandade dos humanos com a natureza comum, o reconhecimento das dádivas do Criador.
O Judaísmo traz a experiência nômade do deserto com a busca da terra prometida, traz o descanso da terra, o perdão das dívidas e a afirmação do direito e da justiça para o órfãos, viúvas e estrangeiros.
O Cristianismo traz o amor ao inimigo, a ética das bem-aventuranças, a gratuidade das aves e dos lírios do campo, a atenção à criança e a todo fragilizado, a promoção da justiça e da paz.
As Religiões dos Orixás trazem a reverência a cada planta, a cada criatura; traz a retidão dos caminhos, o respeito pelo outro, a sabedoria compartilhada e o imenso respeito pelos mais velhos.
O Espiritismo traz um convite à coerência entre fé e vida, uma caridade amorosa e gratuita e a insistência no desenvolvimento moral da pessoa e da sociedade, além de um respeito grande às religiões.
(MAÇANEIRO, Marcial. Religiões & ecologia. São Paulo: Paulinas, 2011, p.167ss SUSIN, L.Carlos (org). Nosso Planeta Nossa Vida, Ecologia e Teologia. São Paulo, Paulinas, 2011). O caminho da compaixão, a ligação criatural entre os humanos e todas as formas de vida, o reconhecimento do dom divino, a sabedoria ancestral, a gratuidade, a veneração, a ética, são riquezas que poderão tecer fraternura e sororidade, amplas e profundas, com toda a criação. |
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