ARTE, POÉTICA E A PEDAGOGIA DE DIREITOS

   PEDAGOGIA DE DIREITOS: A EDUCAÇÃO COMO ATO POLÍTICO

Há práticas educativas de valor, e já é bem mais difícil achar pessoas que publicamente aceitem o desrespeito e exploração das meninas e meninos. Apesar de ainda muitas práticas contrárias e de uma estrutura político-econômica às avessas, nosso povo continua encontrando formas de amar suas crianças e jovens oferecendo-lhes pão e bênção.
Pedagogia de Direitos, Pedagogia Social, Pedagogia da Dignidade, Pedagogia Solidária, são nomes ainda em experimentação de uma prática que vai se firmando no cenário educativo da sociedade brasileira. Para isto houve a contribuição significativa de grande número de pessoas de destaque no campo jurídico, na educação, na política, na universidade. Houve a grandeza da presença significativa de uma multidão de educadoras e educadores que mergulharam com coragem, ternura e vigor na vida sofrida dos pequenos empobrecidos.
Sempre é tempo de acompanhar nascimentos que demoram e surpreendem. Aqui há pedagogia esperançada.
O amanhecer humano é realidade que inaugura a cada instante o mundo em sua imprecisão criativa.
Educar é trazer à luz da vida potencialidades que se encontram no mistério de cada ser.
Para educar há que convencer. Trata-se de vencer junto, celebrando as conquistas dos pequenos: con-vencer, é jogo dialogal que não se contenta em vencer.
O educador e a educadora produzem o tempo novo onde possa acontecer a desejante vontade de desabrochar.
Educadores são semeadores e nem sempre são os que fazem brotar a semente. Nem podem puxar para cima a planta ainda pequena para que cresça com rapidez. Há riscos de novas fraturas ou até de feridas fatais.
Na arte pedagógica, o educador e educadora se aprimoram em produzir vida em plenitude acompanhando com sensibilidade a novidade dos pequenos que podem se apresentar surpreendendo o mundo estabelecido.
No Brasil, nas cidades e no campo, uma miséria aviltante machuca milhões de existências humanas.
É aqui, concretamente, que os educadores e educadoras são chamados a atuar com força transformadora.
Novos valores buscam a efetividade, passando por momento alternativo e buscando uma capacidade alterativa. Trata-se de participar, com ternura e vigor, das forças sociais que desejam e mobilizam transformações sociais a serviço de todos e todas a começar pelas minorias e maiorias fragilizadas e violentadas.
Em lugar de ser uma agência social, o programa educativo transformador torna-se momento social que dá corpo aos clamores dos esquecidos em busca de suas necessidades vitais. Tal projeto pedagógico convoca a todas as forças sociais e as pessoas abertas à solidariedade, para inaugurar institucionalidades, modulações e tempos novos.
Há que olhar para a vida dos mais fracos e traçar mapas capazes de compreender e agir na transformação das estruturas que estão promovendo a morte.
Educadores, educadoras precisam sentir-se responsáveis pedagogicamente pelas condições de vida do povo, e não só das crianças e jovens com quem está atuando.
Aqui, o ato educativo torna-se um ato político na grandeza do compromisso com o bem comum, com a história dos fracos, com a produção de sentidos novos para as vivências sociais.
Educadores ou educadoras têm clareza de que sua ação pode provocar um tríplice transformação: nos meninos e meninas que, sentindo-se valorizados, avançam no seu desenvolvimento; no educador e educadora que crescem em estatura e dignidade como seres humanos e educadores; na sociedade que é convocada a abrir-se diante do outro e conceber suas estruturas sociais como instrumentos provisórios e modificáveis em vista da garantia das condições fundamentais de vida para as maiorias.
Grande parte da sociedade recebe diariamente informações das mais diversas e uma doutrinação que as de-forma em pessoas individualistas, não solidárias, sem coragem de dedicar a vida por causas humanitárias, sem esperanças, domesticadas, sem indignação diante da injustiça, competitivas, exploradoras, gananciosas. É preciso trabalhar criticamente o impacto destas influências. Não temos os mesmos instrumentos de incidência social para reverter o quadro, mas é urgente lançar-se ao desafio.
O reconhecimento da dignidade de uma criança, de um jovem, a presença educativa no drama do seu ambiente de vida e morte, a aventura relacional, a construção da comunidade humana, são caminhos que não se percorrem sem um permanente olhar crítico para o que está acontecendo. A introdução da criança como sujeito de direitos na sociedade carrega consigo a exigência de rever as leis e as estruturas sociais, políticas e econômicas. Ao afirmar a prioridade da criança, da pessoa humana, afirma-se também o caráter provisório e não-sagrado das instituições sociais.

                                                                                         Antônio Salvador Coelho